Eu não sei se era verão ou inverno, nem se eu estava em férias ou se era apenas mais um final de semana no refúgio da família. Eu só me lembro de uma frase entoada aos berros: eu não quero mais brincar!
Eu devia ter sido presa neste dia. Eu tive a demência de dizer, a uma criança, que eu já tinha crescido e não queria mais brincar de faz de conta como...sempre. Infelizmente, é como diz a música, "o pra sempre sempre acaba". E com o tempo, a gente descobre que precisa ser mestre na arte de se reinventar, se redescobrir, se reconstruir, se resignificar. Se eu soubesse disso naquela época eu não teria feito isso com a pessoinha mais importante da minha vida, minha própria irmã. Teria tido mais paciência com ela, teria mudado um pouco as brincadeiras, ou iria diminuindo um pouco a frequência que brincadeiras de faz de conta como aquela que ela queria ingenuamente brincar naquele momento... Mas eu não sabia, e eu gritei. Não sei quais foram as consequências deste meu ato máximo de egoísmo e "teen rage", se é que tiveram consequências... mas se eu pudesse voltar, e reviver um único dia da minha vida para mudar alguma coisa, seria este dia. Apesar de eu sentir remorso por aquele dia, talvez não tenha sido algo tão grave. Eu antecipei na vida dela uma verdade que atormenta a vida adulta: Tudo é muito mais complicado do que parece. Mesmo sem entender o por quê da minha reação (pelo menos por mais uns 3 anos) ela precisou encarar esse fato que foi jogado na cara dela sem que ela pudesse esboçar qualquer reação de defesa (ou de ataque). Da noite pro dia, o mundo dela mudou porque da noite pro dia o meu mundo mudou. Eu mesmo sem querer interferi no mundo dela, e não consegui, naquele momento, enxergar o quanto o fato de eu não querer brincar implicaria no fato de ela não poder brincar. E no final, as coisas se complicaram tanto que se inverteram. Quando criança, pensava que ser adulto seria viver na realidade, assumir compromissos, tomar riscos, tomar decisões importantes e pagar contas. Mas a verdade é que a gente continua numa eterna brincadeira de faz de conta, construindo mundos, fronteiras, impérios que da noite para o dia alguém pode simplesmente virar para a gente e gritar "Eu não quero mais brincar". Como dar um chute num castelo de areia, esse mundo de faz de conta se desmancha como se nunca tivesse sido nada além de areia. E ai, aquela realidade que parecia tão palpável deixa de ser "de repente, não mais que de repente". É, minha irmã. Eu não quero mais brincar...mas eu preciso. E a cada castelo que se desmancha, ei de construir mais um. A cada novo mundo que se inverte, tenho que me virar de ponta cabeça também. E ser adulta, hoje é pra mim viver no mais incontrolável dos faz de conta onde tem vários jogadores mudando o tempo todo o mundo "backyardigans" em que brincamos, é assumir compromissos entendendo que é tudo uma questão de confiança antes da responsabilidade porque não podemos fazer tudo e precisamos contar com alguém, é tomar riscos mesmo sem ter consciência deles, é tomar decisões independente se elas são importantes ou não porque amanhã ela pode não ter o mesmo peso que tem hoje, e é pagar contas (porque algumas coisas nunca mudam mesmo). E para encerrar esse meu melodrama pessoal, eu trago uma poesia que me parece caber, pelo menos para uma pessoa que é movida apenas pela paixão... |
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January 2016
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